domingo, 18 de dezembro de 2011

capítulo 26

A Carol está olhando para o outro lado, para as pessoas que passam pela rua e eu não sei o que dizer.

- Tu não vai fala nada? - ela pergunta olhando para rua.

- E o que que eu posso te dizer?

- Nem sei se eu quero que tu diga alguma coisa, na verdade...

Ela olha para mim mas não fala nada, fica me fitando e eu fico nervoso com isso, imagino todas as coisas que estão passando pela cabeça dela e não acredito que sejam coisas boas ao meu respeito.

- Na verdade o quê? - eu falo com medo de ouvir a resposta.

- Nada não é melhor eu ir embora.

Ela levanta sem me olhar, vira as costas e sai da mesma forma que chegou e eu fico ali parado, pensando no que aconteceu e se vale a pena eu ir atrás dela. Olho um casal que entra no Cristal, sorridente, mãos dadas, falando alto e demonstrando em cada gesto o amor que eles sentem. Eu fico com vontade de chorar, de levantar e ir atrás da Carol nem que seja para ela me xingar e falar algo pra mim, mas não faço um gesto sequer. 

Fico quieto, respiro e pego o celular. Chama, mas ela demora a atender.

- Paulinha... quer tomar umas cervejas comigo aqui no Cristal?

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

capítulo 25

Já são 18h em ponto e eu tô sentado aqui no Café Cristal tomando uma Coca Zero muito comportado. Nos fones toca "Teenage Kicks" do The Undertones e eu tento parecer tranquilo enquanto espero a Carol. Como que para me deixar mais nervoso, assim que eu penso no nome dela a dita cuja entra no Café.
Ela para um segundo na porta, me procura com o olhar e quando me vê abre um sorriso, o mesmo que me conquistou muito tempo atrás. Vem em minha direção, ela veste uma regata preta colada no corpo, um short jeans e esta de chinelinho de dedo, ou seja, já fiquei desconcertado apenas com a visão deste corpo feminino se aproximando de mim, o que dizer de eu falar com ela de novo.

- Oi. - ela diz e fica parada na minha frente.

Eu levanto e dou um beijo no rosto dela. WTF! Por que diabos eu fiz isso?

- Oi - eu falo querendo bater a cabeça na parede - quer sentar?
- Claro.

Eu puxo a cadeira pra ela e depois dela sentar me acomodo.

- Tu queria falar comigo?
- Como assim? - eu falo já com medo da resposta - Não era tu que queria me dizer algo?
- O que eu tinha pra dizer eu já disse na festa, tu é que me ligou depois.

Eu não acredito que ela me chamou até aqui para ficar neste papo besta.

- Tá mas lá na festa tu falou que tava errada não é? Eu nem tinha bebido então eu sei o que eu escutei.
- Eu lembro o que eu falei - ela baixa a cabeça e fica olhando para as mãos - e sei o que significa, mas não sei o que significa tudo o que está acontecendo.
- E o que tá acontecendo afinal? Tu bem que podia me explicar, pois eu não tô entendo porra nenhuma!
- Eu gosto de ti Soda.
- Se gosta por que terminou então?
- Não é tão fácil explicar.
- Pode não ser fácil, mas também não é fácil pra mim saber que além de me deixar tu fica com um cara escroto que tu jamais gostaria antes.
- Eu sei disso - ela continua com a cabeça baixa e isso me deixa cada vez mais nervoso - mas é que eu não sabia mais o que fazer, eu precisava de algo mais seguro pra mim.
- Seguro? Como assim seguro?
- Futuro sabe? Financeiramente, profissionalmente... uma vida mais tranquila, mais séria e não essas loucuras que tu passa querendo fazer toda semana.
- Loucura? Que loucuras que eu faço? - eu olho para os lados, coço a cabeça - Eu sou o cara mais comum que eu conheço, eu sou normal, um publicitário babaca como tantos outros!
- É verdade... como tantos outros, só que nunca ser nada mais do que isso, tu continua sendo explorado pelos outros e nunca tomou a iniciativa de ser um chefe, o dono de algo, continua se danando de tanto trabalhar para os outros, fazendo um trabalho muito legal, mas quem fica com o dinheiro, com a fama são os outros. Tu sempre vai ser um sonhador Soda... um peão pros outros. E ainda por cima...
- O que foi? - eu pergunto com medo do que pode vir na resposta.

Ela me olha bem nos olhos.

- Quando tu vai para de sonhar que tu um dia vai ser um rock star?

Eu sabia, o papo tinha que terminar assim.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

capítulo 24

São sete da manhã e eu ainda não dormi, tô sentado aqui  no sofá da sala desde que cheguei em casa de madrugada e acho que já furei o primeiro CD do Radiohead de tanto que eu toquei. Só que não prego o olho por causa da ansiedade que tô sentindo sabendo que eu vou conversar com a Carol hoje de tarde e tô me borrando todo só de imaginar o que ela vai me dizer, e o que é pior, não ter a mínima ideia do que ela vai me falar.
Sabe, nada é pior do que não saber o que nos espera. Tá... existem coisas piores como pegar o copo de leite gelado e não ter Nescau em casa, ficar com uma pusta vontade de ir no banheiro bem quando tu tá dentro do ônibus lotado e tomar cinco injeções antirábica por culpa de um cusco de rua que te deu uma mordida na batata da perna, mas fora isso... ficar esperando é algo muito tenso pra mim.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

capítulo 23

Então ela estava esperando eu ligar. E agora... o que eu falo? Toda a conversa sobre o quanto ela me faz falta e o quanto eu quero sentir o cheiro da sua pele novamente passam pela minha cabeça, mas não abor a boca para falar nada.
- Soda? - ela fala com aquela voz que me deixa besta - tu não vai falar nada?
- Eu... eu... gostou da festa? - festa? que merda é essa? com tudo que eu tenho para falar e perguntar eu pergunto sobre a festa! Eu sou um merda!
- Gostei, mas não quis ficar muito, não tô com pique de festa, tenho muita coisa para pensar.
Coisas para pensar? O que ela quer dizer com isto? Será que ela tá pensando em mim? É isso que ela quis dizer?
- E tu tá pensando... em algo... específico? - droga, nem consigo falar como homem, tô com a perna tremendo, eu não devia ter ligado.
- Tô. E tem relação contigo. - ela fala isso da forma mais natural possível.
- Eu? Ah, tu tá de brincadeira. - tento parecer um cara tranquilo, mas acho que passo por idiota mesmo. - Eu? Por que tu ia tá pensando em mim?
- Sim, até eu fiquei me perguntando o motivo disso. - ela sorri, droga, tá rindo da minha cara, eu sou um idiota mesmo.
- Tá e isso significa o quê?
- Olha, agora da tarde para falar pelo telefone, vamos nos encontrar amanhã de tarde.
- Já é de madrugada, tu quer dizer amanhã, amanhã, ou amanhã, hoje de tarde?
Escuto a risada dela e imagino ela deitada no sofá da sala, só de camiseta e calcinha.
- Só tu né Soda! Sempre literalista, eu quis dizer hoje de tarde então.
- Ah... tá, beleza! Onde?
- Vamos nos encontrar ali no Café Cristal, ali na Pasqualine?
- Pode ser, faz tempo que não vou ali.
- Então tá, amanhã às 18h, pode ser?
- Pode sim. - eu acho que eu tô gaguejando - Combinado, amanhã às 18h no Café Cristal.
- Então té mais, beijo.
- Beijo.
Ela desliga e eu fico parado ali na rua. 
Ao longe alguém com insônia escuta "Everything Flows" do Teenage Fanclub e eu encho os olhos d'água. Merda, que medo... o que ela conversar comigo? Não vou aguentar dois foras da mesma mulher. Carol... o que tu quer comigo?

segunda-feira, 23 de maio de 2011

capítulo 22

Penso no que o elefantinho me fala e resolvo ligar para a Carol. Sei que não é a melhor coisa do mundo ligar para a mulher que a gente ama estando bêbado, mas creio que não tenho muito mais a perder.
Levanto, começo a caminhar, pego o celular e ligo para ela... começa a chamar... ao longe escuto "Pictures of You" do The Cure saindo de alguma janela.
Ela atende:
- Oi.
- Oi. - digo eu, e me arrependo de ter ligado pois vejo que vou ficar mudo e sem saber o que dizer.
- Eu estava esperando tu me ligar.
Ela fala isso e eu penso que Deus existe e que ele se comunica comigo através de um gimmick dos anos 70, isso, ou a vodka que eu tomei me deu o maior barato.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

capítulo 21

Eu não acredito que o elefantinho da Shell tá falando comigo, realmente porre de vodka dá barato.
- É claro que eu ligaria para ela - e ele não para de falar - não perderia uma oportunidade dessas!
- Mas tu conhece a Carol?
- Não meu rapaz! - "meu rapaz"? quem é que fala assim hoje em dia - é só modo de falar. Eu só quero dizer que ligaria para a mulher que eu amo se ouvisse ela falar o que falou para você.
Já sei, a voz do elefantinho é a do Sérgio Chapelin!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

capítulo 20

Caminho sozinho pelas ruas na volta para casa. Carrego junto uma garrafa de vodka que peguei na festa. O celular no bolso me convida para uma ligação para a Carol, mas ao invés disso eu sento no meio fio e tomo mais um gole.
Resolvo beber para esquecer, ou para entender, ou até morrer... não sei mais o que pensar, só lembro de Carol na festa.
- Você devia ligar pra ela.
Levo um susto, olho para trás para ver quem falou e não acredito quando dou de cara com o Elefantinho da Shell e ainda por cima com o mesmo uniforme amarelo dos antigos comerciais de TV.
- Como? - Eu falo sem acreditar que estou respondendo para um desenho animado.
- Para a Carol! Você devia ligar e falar com ela. - A voz dele não me é estranha.
- Tem certeza? - não acredito que eu falei de novo com ele.
- Claro que tenho. - Essa voz, eu conheço, só não lembro bem de onde.
- E como eu você pode ter certeza?
- É o que eu faria. - ele senta ao meu lado.
- Você ligaria para a Carol?
Ele pega a garrafa de vodka da minha mão e toma um longo gole e limpa a boca com a manga do seu macacão amarelinho.
- Claro que sim

domingo, 27 de março de 2011

capítulo 19

"Dark is The Night for All" do A-ha toca na festa.
Duas gurias vestindo apenas calças de couro e nada mais se beijam e se devoram sobre a mesa de centro da sala.
Eu olho a cena mas não penso e nem sinto nada pois minha mente está longe daqui.
Paulinha fala alguma coisa mas apesar de ver seus lábios se moverem não escuto nada.
"Talvez eu tenha me enganado"... essas foram as palavras da Carol, sussurradas em meu ouvido. E não é isso que me chama mais atenção, o que não consigo esquecer é o olhar dela ao me falar isso. Não consigo para de pensar em seus olhos enquanto ela partia depois de me falar essas palavras.
A festa não significa mais nada pra mim, eu só penso no que isso pode significar,
O dj toca "Stay On These Roads" do A-ha e acho que ele está de sacanagem comigo.

capítulo 18

Chegamos na dita festa e já percebo que a casa do Kibe está transformada em uma verdadeira FUN HOUSE.
Paulinha e eu vamos de ambiente em ambiente caminhando entre cyberpunks de cabelos descoloridos, clubers vestidos com roupas ultra-coloridas de ciclistas, casais gays que se beijam com extrema paixão visceral e rockers tecnológicos viciados em morfina.
Ao entrar na sala para pegar uma cerveja na piscina infantil cheia de gelo que serve de cooler de bebidas dou de cara com Carol. Ela fica me olhando fixamente e me desconcentro.
Pego uma cerveja, abro e entrego para Paulinha, pego uma pra mim, abro e tomo um gole percebendo que Carol não tira os olhos de mim. Ela vem em minha direção. Fico nervoso e não sei o que fazer. Ela se aproxima de meu ouvido e sussurra com aquela mesma voz rouca que eu ainda amo.
- Talvez eu tenha me enganado.
Ela fala séria e se afasta de cabeça baixa enquanto toma um gole de vodka.
Eu fico imóvel.
Os primeiros acordes de "Never Surrender" do Corey Hart começam a tocar na festa e parece que o dj escolheu aquela música especialmente para mim.

domingo, 13 de março de 2011

capítulo 17

Paulinha chega na hora marcada, pontualmente, e tomamos o rumo da festa.
Ela liga o som do carro.
- Quer escutar alguma coisa?
- Qualquer coisa.
- Então, como é noite de festa, nada melhor do que começar com o primeiro do Van Halen.
Ela coloca a música e os primeiros acordes de "Runnin' With The Devil" estouram dentro do carro. Eu escuto a música e vejo que está noite promete, quem sabe sirva como um exorcismo e eu consiga tirar a puta da Carol da minha cabeça.
-Olha, eu só tenho que te dizer uma coisa. - Paulinha fala bem devagar, como se estivesse escolhendo as palavras para me dizer algo - Eu fiquei sabendo quando tava vindo te pegar.
- Fala mulher!
- A Carol vai tá na festa.
Puta merda... lá se foi meu mundo e minha confiança. É hoje a noite da minha lenta morte.

quarta-feira, 2 de março de 2011

capítulo 16

Acordo e já é noite. Acredito que isso pode ter acontecido devido a combinação do presunto azul que comi e que me fez ficar numa procissão cama-banheiro-cama com meu íntimo ser notívago que é mais chegado aos desvios da escuridão do que ao clarão da luz.
Tomo um banho, me visto e ligo para a Paulinha.
- Alou.
Sim, por incrível que pareça ela atende o telefone com essa pronúncia.
- Oi minha única amiga!
- Oi Soda, eu já ia te ligar. Queria saber como foi a noite passada pra ti.
Lembro bem do que foi minha noite passada mas prefiro não falar nada.
- Nada de anormal - falo aparentando ser um cara calmo e descolado - apenas mais uma noite assombrado pela lembrança da Carol e do que aquela puta tá fazendo junto do ex-marido.
- Ah Soda, esquece essa guria, isso já é passado!
- Fácil falar.
- Tá, olha só, eu quero o teu bem, e entendo que você está arrasado, mas agora não adinta mais pensar nisso, a vida continua e ela vai pagar pelas merdas que fez com você. Agora segue o baile e toca a tua vida.
Essa mina sabe como me fazer bem.
- Tá Paulinha, então vamos fazer alguma coisa, pois eu não quero mais ficar em casa.
- Então vamos na festa lá na casa do Kibe, eu te pego daqui uma hora, me espera lá embaixo.
- Feito, tô te esperando.
Uma festa na casa do Kibe é tudo que eu preciso para esquecer a Carol - merda, já tô pensando nela de novo - e me sentir um pouco mais vivo. Se for como a última festa que eu fui será bizarro, pois tinha um show de travestis, uma briga de anões nus, um bode chamado bendengo e uma banda de rock boliviana.
Eu nem lembro como eu cheguei em casa depois daquela festa, mas lembro que teve gente que nunca mais apareceu, e quem apareceu nunca mais foi o mesmo.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

capítulo 15

Depois do final de noite deprimente, fico acordado até de manhã imaginando o que os desígnios divinos preparam pra mim, afinal, sem emprego, sem a mulher que eu amo, morando sozinho... alguma coisa deve acontecer.
Infelizmente acho que já sei o que é.
Bem que eu achei que comer, quando cheguei em casa, um sanduíche com um presunto meio azulado não me cairia bem.
Vida de merda!

domingo, 13 de fevereiro de 2011

capítulo 14

Depois de andar por algumas ruas do centro de Santa Maria encontro um boteco ainda aberto na final da Avenida Rio Branco, "Amor em Pedaços", o nome não poderia ser melhor considerando a minha situação.
Sento e peço uma Polar, o balconista, um senhor de idade, gordo, usando uma regata encharcada de suor do Vitória da Bahia, nem me responde, apenas abre um freezer velho, pega um copo na parte debaixo do balcão e vem me entregar arrastando os chinelos de dedo. Ele larga o copo na mesa, abre a cerveja e volta para a sua posição inicial sem falar uma palavra.
Bem, depois de esfregar o copo na minha camiseta para tentar, inutilmente, tirar o excesso de gordura, eu tomo um gole e fico olhando ao meu redor. O que eu posso dizer, o lugar mal iluminado se resume ao balcão caindo aos pedaços, um freezer que outrora foi branco, um baleiro com umas balas que eu não via desde a minha infância, e acho que são as próprias, um pote com ovos coloridos em conserva, misteriosamente de diversos tamanhos, o que me faz pensar que ali tem ovo de codorna, galinha e avestruz, uma foto retirada de uma revista Placar antiga com o Internacional octa-campeão gaúcho em 1976 e três mesinhas de plástico.
Além de mim e do dono do boteco, apenas um senhor vestido como um figurante de filme pornográfico dos anos oitenta toma uma cerveja em outra mesa. Não tem um rádio, uma TV, o silêncio é sepulcral.
Reparo que o velho da outra mesa está me olhando.
- Perdido pela cidade? - ele levanta e vem até a minha mesa - Posso sentar?
Faço um gesto afirmativo e ele senta.
- Pra estar aqui sozinho, tão tarde, só pode estar procurando algo.
- Não é o meu caso - e falo tentando encerrar o assunto - apenas quero ficar sozinho.
- O que você quer então?
- Quero apenas esquecer.
- Algum amor?
- É.
- Ah, mas pra ti vai ser bem fácil. Um rapaz tão bonito logo arranja alguém.
- Não é bem assim.
Ele coloca a mão no meu braço.
- Não seja modesto, com o esse corpão... é um desperdício ficar aqui sozinho.
Puta merda! E essa agora! Sério Deus, tá bem que eu não tô me acertando com nenhuma mulher, mas não sejamos tão radicais, transar com um velho gay em um bar que já deveria ter sido fechado pela vigilância sanitária na época do Getúlio Vargas não está nos meus planos para está vida. E já deixo bem claro, nem na próxima!
Eu levanto.
- Olha, obrigado pelo elogio mas acho que já tá na minha hora.
- Quer uma carona?
- Que é isso, não quero incomodar, eu gosto de fazer exercício de madrugada - vou até o balcão - e aí meu tio, quanto é a ceva?
- Cinco pila.
Eu dou o dinheiro e pego o rumo da saída.
- Então tá gente amiga, o papo tá bom, mas já tá na hora de eu me encontrar com Morpheu.
O velhinho pornográfico me olha.
- Eu sabia que tu tinha alguém.
- O quê? Eu com alguém? Não... Morpheu é... ah deixa pra lá! Fui!
Eu saio do bar e subo a rio Branco em direção de casa.
Essa é a típica coisa da minha vida.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

capítulo 13

Paulinha me deixa em casa mas eu não subo, fico olhando ela partir até o carro sumir na esquina. Meu humor não melhorou mas conversar com ela já me fez sentir vivo, o que já é um começo.
Só tem um problema, não tenho coragem de subir e ficar sozinho em casa. Nem pensar! Essa hora deve ter algum boteco aberto nesta cidade. Quem sabe eu tomo todas e durmo até o ano que vem. Até lá já vou ter esquecido a Carol, ou quem sabe tomo todas e acabo descobrindo que na verdade estou dormindo.
É isso!
Eu sou apenas o meu sonho, ou o sonho de outro!
Eu sou o pesadelo de um viciado em heroína, um junk necrófilo!
Caralho, só pode ser isso, afinal, qual seria a explicação pra todas essas pessoas que sempre estão escutando pagode ao meu redor.
E se... e se... e se, porra nenhuma! Como eu penso merda inútil, há vinte minutos eu tô parado em frente ao meu prédio, simplesmente não pensando em nada e ainda não fui procurar um bar.
Eu sou um merda mesmo!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

capítulo 12

Fico olhando o cachorro quente na minha mão e suspiro.
- Adoro o cachorro aqui do "Come Cão", mas na fase que eu tô, até isso não tá bom.
- O cachorro tá ótimo, tu é que tá azedo. Eu sei qu tu tá sofrendo Soda - ela é a única pessoa que me chama assim - então desabafa de uma vez e tira essa mulher da tua cabeça.
- Tira essa dor de que jeito? É muita frustração para um homem só.
- Que frustração Soda?
- Como assim que frustração? A frustração de mais um relacionamento fodido. Eu não sou mais criança, tenho 42 anos, será que minha vida é isso? Levar foras e ficar sozinho? Eu vou acabar virando o tiozinho das festas em família!
Paulinha ri.
- Qual é a graça guria?
- Até para sofrer tu é um exagerado. Não te preocupa que tu não vai morrer sozinho.
- Como é que tu sabe disso?
- Da mesma maneira que eu sei que eu não vou ficar sozinha.
- Eu gostaria de ter essa confiança.
- Esse é o teu problema, tu não acredita em ti, isso deve ser culpa das músicas depressivas que tu escuta. Tu precisa de mais guitarra e menos baixo na tua vida.
- Ah tá! Isso só poderia vir da guria poser que ama o Motley Crüe.
- Amo mesmo seu trouxa! Cala a tua boquinha e come teu cachorro que tá pingando mostarda na tua camiseta.
- Porras, minha camiseta do Bauhaus! E agora pra tirar essa mancha amarela? Que merda, nem pra comer um cachorro quente eu sirvo!
- Tu é um cabecinha mesmo... mas eu te adoro assim.
Poxa, essa guria é muito tri. Só ela pra fazer eu rir um pouco.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

capítulo 11

"Everyday is Like Sunday" do Morrissey toca no som do carro e aproveito para aumentar o volume.
Paulinha e eu ainda não conversamos nada direito e estamos em silêncio esperando nossos cachorros-quentes em frente ao trailer do Come Cão.
A Paulinha é o tipo de guria ideal: se veste como uma rockeira chic, ou seja, usa bota de cowboy feita de couro de cobra, short jeans todo rasgado e camiseta do The Cult, é culta, ganha tri bem trabalhando como arquiteta e é apaixonada pelo The Clash. Mas mesmo com tudo isso eu nunca fui a fim dela e nem ela a fim de mim, o que acabou acontecendo é que nos tornamos meio que irmãos, sempre um cuidando do outro.
Ela pega a minha mão.
- Quer falar?
- Não.
- Tu sabe que uma hora, um dia, tu vai ter que falar e conversar sobre isso.
- Mas hoje não é o dia.
Um anão usando uma camiseta duas vezes maior que o tamanho dele, o que não é muito difícil, traz os nossos lanches até o carro, interrompendo a conversa.
- Dois cachorros de calabresa.
- Isso mesmo.
- E pra beber?
- Duas Pepsis.
O anão se afasta para buscar os refris e eu fico cuidando ele.
- Tu reparou que ele tinha a voz do Pato Donald?
- Soda, tu tem um problema!

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

capítulo 10

Entro no carro da Paulinha e ela me abraça com um carinho que só uma amiga de verdade pode fazer. Ao sentir esta energia encho os olhos d'água e ela parece notar isso.
- Não me conta nada!
Ela tem um sorriso cativante. Liga o carro, coloca no som "Baba O'Riley" do The Who e acelera junto com os primeiros acordes do Pete Townshend.
Realmente eu não falo nada, não preciso, apenas coloco a cabeça para fora, vejo as ruas ficarem para trás e grito com todas as forças.
A Paulinha apenas olha pra mim e sorri.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

capítulo 09

É noite... o pior momento para um recluso.
O telefone toca e levanto do sofá que já está tomando a forma do meu corpo, atendo já com medo do que vou escutar.
- Fala!
- Isso é modo de falar com uma amiga?
- Oi Paulinha, o que tu quer?
- Como assim o que eu quero? Eu quero é saber como é que tu tá?! faz uma semana que tu sumiu e não fala com mais ninguém.
A Paulinha é minha amiga desde a faculdade e com o passar do tempo virou uma irmã. Noto pelo tom de voz que ela tá preocupada mesmo.
- Olha só, tô passando aí pra te pegar.
- Acho que não sou a melhor das companhias hoje.
- Não te perguntei nada, em mei hora tô aí, me espera em frente ao prédio.
- Tá bem, tá bem.
- Então tá, beijo.
- Beijo.
Desligo o telefone e fico parado no meio da sala pensando em como é bom ter uma pessoa assim perto de mim.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

capítulo 08

Hoje faz uma semana que não saio de dentro do meu apartamento, desde o fatídico dia da minha demissão, e nem imaginava que conseguiria me manter assim. Pra vocês terem uma ideia, ninguém mais precisa sair de casa pra nada, pois tudo, das compras no mercado e na farmácia até roupas são entregues na sua porta. Isso me ajudou muito neste momento em que a única coisa que eu desejo é me recolher e não ver a cara de ninguém, muito menos de alguma mulher.
Neste período de ermitão minha alimentação se resume aos deliverys da vida, desde deliciosas pizzas de carpaccio com rúcula e tomates secos, passando por comidas chinesas "in box" até os gigantescos e mais gordurosos xis bacon do mundo. Para beber é Pepsi na hora das refeições e vodka sem gelo no restante do tempo.
Passo os dias revendo minha coleção de filmes de terror - já vi "O Exorcista" três vezes só de ontem pra hoje - e à noite fico sentado na sacada olhando as luzes da cidade e bebendo... é claro!
Enquanto isso, escolho minha playlist para as noites de fossa:
  1. Sound of Love - Bee Gees
  2. Sweet Jane - Velvet Underground
  3. Always on My Mind - Elvis Presley
  4. Let's Get In On - Marvin Gaye
  5. I Drove All Nigth - Roy Orbison
  6. Fake Empire - The National
  7. Rivers of Ice - Simple Minds
  8. (Fells Like) Heaven - Fiction Factory
  9. Perfect Day - Lou reed
  10. Nine Million Rainy Days - Jesus & Mary Chain

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

capítulo 07

Dudu conta que foi a própria Carol que fez o favor de contar pra todos no trabalho que tinha terminado comigo e estava voltando com o ex, ou seja, além de ser uma vaca, ela é uma cadela fofoqueira, o que só contribui com a minha ideia, junto com o fato de ela ser uma mula de tão burra, de que a Carol é um zoológico ambulante e ainda por cima me fez ficar com a maior cara de otário.
Agora me pergunto: o que uma porra de uma mulher como ela tem na cabeça pra fazer isso? Imagino que só merda!
Em função dos últimos acontecimentos penso em minhas opções:
  1. inventar um história e falar que eu é que cansei por ela não chupar bem e quando chupava, mordia;
  2. esperar a Carol chegar e socar a cara da infeliz até ela engolir os dentes;
  3. sair do emprego.
Bem... parece meio óbvio o que eu fiz, acabei saindo do emprego, mas não da forma que eu imaginava, muito menos da que vocês pensam.
Logo que o Dudu me falou tudo, saí contando pra todo mundo ouvir que a Carol era uma nulidade na cama e eu já tava pensando em dar um fora nela. Só que enquanto contava, fui ficando cada vez mais nervoso e com mais raiva daquela puta, que por sinal, chegou bem na hora acompanhada do ex/atual, o que me fez explodir e partir pra cima deles, mas como sempre fui uma ameba em brigas, tropecei nas próprias pernas e acabei dando um soco na parede.
Resumindo, fui demitido por tentar agredir uma colega de trabalho e ainda por cima ganhei uma luxação na mão.

domingo, 23 de janeiro de 2011

capítulo 06

Chego no trabalho e abro a porta vagarosamente, olho ao redor e não vejo a Carol, me sinto aliviado e vou direto para a minha mesa. Mal me acomodo e o Dudu, que senta no cubículo ao lado, espicha a cabeça entre as divisórias.
- E a Carol hein?
- O que tem? - falo tentando manter a calma e sabendo que não estou conseguindo.
- Todo mundo já tá sabendo que ela te deixou.
Que ótimo... meu dia será pior do que eu supunha.

capítulo 05

O romance, se é que posso chamar assim, começou um mês depois que eu comecei no trabalho e durou um ano. O pior é que tinha tudo para não dar certo, mas por um momento eu acreditei que comigo era diferente e esse foi meu erro, eu acreditei que os opostos se atraem e em toda essa merda que vemos todos os dias em romances açucarados, comédias românticas e novelas de mau gosto.
Mas eu não sou o único culpado disto, a Carol me convenceu que daria certo. Ela tinha acabado de se separar de um ignorante, ruim de cama - segundo palavras dela - e falava que tinha visto em mim, na minha pessoa desengonçada - palavras minhas - o verdadeiro amor.
Que lindo isto né?
É... até poderia ser ser maravilhoso, um conto de fadas e fodas - o trocadilho infame é necessário e permitido pois o sexo com ela era fenomenal. Mas não foi nada disso que aconteceu, um ano depois, sema mais nem menos, ela simplesmente chegou pra mim e disse que estava tudo acabado, que ela estava enganada e que voltaria para o ex. Sim, o mesmo ex que ela chamava de ignorante e ruim de cama.
O que eu poderia fazer, pelo jeito até mesmo um troglodita/brocha é melhor do que eu.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

capítulo 04

Como eu disse, a vaca da Carol trabalha no mesmo local que eu, só que na produção dos ensaios fotográficos, e ao mesmo tempo é uma pretensa estilista.
Eu não sei ao certo os motivos que me fizeram ficar apaixonado por ela, afinal é o tipo de guriazinha arrogante, patricinha, mimada pelo papai, que sempre me irritou. Acho até que no começo eu não gostava dela, na verdade eu me apaixonei pela ideia de ter uma mulher linda que dizia me amar e me chamava de "homem singular", pois ela acreditava que eu era original e diferente dos outros.
Só que mesmo eu não querendo, eu me apaixonei, e aí... já era!

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

capítulo 03

Eu trabalho em um site de moda, escrevendo aquele tipo de texto que acompanha os ensaios fotográficos. É... coisas da vida, eu queria ser escritor e acabei fazendo coisas como: " um trench coat feito para você que busca a elegância europeia e e a sensualidade latina".
Triste né?! Mas pelo menos paga minhas contas. Algumas delas pelo menos.

capítulo 02

Já está amanhecendo e passei a noite acordado. Devo ter furado o CD "The Queen is Dead" do The Smiths de tanto que escutei durante a madrugada.
Estou cansado, meio bêbado e tenho que trabalhar. Sim... pode não parecer, mas eu trabalho, e isso não é o pior no meu dia, a merda toda é que a Carol trabalha no mesmo lugar que eu.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

capítulo 01

Meu nome é Sodaboy.
Tu achas estranho? Pois poderia ser pior, eu quase fui chamado Montain Dew Jr.
Além do mais, isso não tem nada de estranho perto do que é a minha vida. São 3h20min da manhã, horário que nem deus está acordado e eu ainda estou aqui, sentado no meio da sala do meu apartamento vazio. Já tomei toda a quantidade permitida de vodka para um ser humano antes do coma e mesmo assim não consigo pregar os olhos, muito pelo contrário, não paro de pensar na Carol.
Quem é Carol?
Bem, Carol é a vadia que me deu um pé na bunda um dia depois de dizer que me amava e que eu era o homem da vida dela.
Sim, pode até parecer esquisito um homem como eu, de 42 anos, não conseguir lidar com a rejeição, mas o que eu posso fazer, esse sou eu, um velho adolescente que usa cabelo moicano, camisetas do The Clash e sonha, ainda, em ter uma banda punk.
Mas voltando ao que eu comentava, não consigo dormir pois oito horas atrás, levei um fora da Carol.