sábado, 31 de agosto de 2013

capítulo 39

Tá... e agora? O que que eu vou fazer da minha vida? Tô sem trabalho, acho que com as decisões idiotas que estou tomando, perdi a minha melhor amiga e ontem a Carol me intimou pra comprar uma moto e fugir com ela.

Que que eu faço?

E a banda? quando resolvo fazer algo, ou melhor, retomar algo que eu achava ser a melhor coisa da minha vida, volta toda essa merda com Carol. Puta que me lambeu! Por que que eu tinha que ama tanto esta mulher? E por que que ela tinha que ser tão gostosa?

E a Paulinha que está doente e eu estou virando as costas pra ela... o que que eu faço?

Ela quer comprar uma moto no próximo sábado e eu não sei o que fazer. Será que ela quer que eu pague a moto? Puta merda... não tinha pensado nisso, se for isso que ela quer eu tô fodido, pois vou ter que gastar toda a minha poupança pra fazer isto. Só que se eu não fizer, ela não vai querer ficar comigo. Mas também... não tem cabimento ela ficar comigo só por causa desta condição, ela não deveria se importar com estas coisas se ela me ama.

Eu tô só piorando a minha vida. só tô fazendo merda e agora não tenho nem coragem de falar com a Paulinha depois de ter deixado ela sozinha quando ela mais precisou de mim.

Que que eu faço? Compro a moto e fujo com a Carol? Esqueço tudo e monto a banda? Quem sabe eu fico com a Rose, ela é bem acessível... é... é isso que eu vou fazer, vou ligar pra Rose?

Não! Não posso fazer isso, vou aguentar e ficar com a Carol, afinal ela é o amor da minha vida... ou não.

Eu sou um merda!

quarta-feira, 10 de julho de 2013

capítulo 38

Devo ter batido algum recorde, pois chego no Bar do Garça em menos de quinze minutos. Claro que chego em um estado deplorável, mas tudo bem, a Carol já tá acostumada com este meu jeito meio, digamos assim, largado... pra não mal vestido mesmo.

Bem, chego a tempo de ver a Carol descendo do carro e desfilando pela rua até onde estou. E o pior é que não estou exagerando no quesito desfile. Sério, a Carol não anda, ela desfila na frente das pessoas.

Ela vem na minha direção, eu começo a ficar nervoso - mais do que já estou - e para bem na minha frente.

- Soda - ai maldição, que voz ela tem - vamos parar com as bobagens e fugir de vez. É a tua última chance de fazer a coisa certa comigo, nem que eu tenha que te ensinar a ser o homem que eu quero.

Na boa, depois dela ter falado "Soda" eu não entendi mais nada, então acho que a coisa é eu concordar.

- Claro - eu falo tentando não me engasgar com a saliva de tão cagado que eu tô.

- Então tá, se tu concorda é o que nós vamos fazer. Me encontra na Bramoto, sábado que vem no começo da tarde que nós vamos comprar uma moto e dar no pé daqui.

Só um pouco, ela falou em fugir comigo?

domingo, 23 de junho de 2013

capítulo 37

Depois do filme, Paulinha e eu caminhamos por uma Avenida das Dores vazia. Estamos em silêncio e isto me perturba. Não sei o que falar pra ela, pior... não sei como ser uma pessoa agradável sabendo que ela está com algum problema. Tenho medo de falar até. Vai saber se não vou falar alguma coisa delicada. Poxa vida, eu nuca falei com alguém que está doente desta forma.

Penso em algum filme que tenha visto e lembro da música "Streets of Philadelphia" do Bruce Springsteen. bem que eu podia ter este dom para comentar sobre coisas tristes, saber poetizar sobre algo assim. Será que existe o termo poetizar? Será que eu inventei isto agora? Cara, do que eu tô falando, já tô pensando nas minhas merdas de novo ao invés de falar algo para a Paulinha.

Porras, ela tá tão bonita, como é que pode tá doente? Não posso acreditar nisto. Se bem que eu sou meio tapado mesmo, vai ver as pessoas doentes ficam assim e eu é que não note nada. Pouts, penseiem algo de novo e não falei nada.

Fala seu merda! Fala!

- Paulinha...

- O quê? - ela fala com um tom frio na voz.

- Eu não...

O meu celular toca, eu pego e vejo que é Carol. Que que eu faço? Que que eu faço?

- Atende duma vez Soda.

- Tá. - ainda bem que ela falou algo - Só vou atender e já te falo o que eu ia dizer. Ela nem repara na minha resposta, está olhando para o outro lado da rua e não vejo sua expressão.

- Alô.

- Oi Soda. - pourras, Carol! É a Carol! - Eu tô te ligando para marcar de falar contigo de novo, mas ninguém pode saber. Me encontra no Garça daqui a meia hora. Beijos.

Ela desliga e eu fico mudo. Olho para Paulinha.

- Paulinha...

- Vai Soda, nem me explica, apenas vai e te vira, mas não me liga durante um bom tempo.

Eu baixo a cabeça, não falo nada e disparo no meio da rua, acelerando o passo para chegar até o bar do Garça em meia hora.

Eu realmente sou um merda egoísta.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

capítulo 36

Paulinha e eu caminhamos pela rua do Acampamento vazia.

- Domingo é sempre assim né? - eu falo tentando quebrar o gelo.

- Pra mim, as vezes Santa Maria parece sempre assim, mas sei que não é isso.

- E o que é então? - digo com medo de ouvir a resposta.

- Talvez seja por eu falar algo sério pro meu melhor amigo e ele ficar uma semana sem me ligar. E pior, quando liga, fala que vai me pegar na sexta para irmos no trabalho e acaba passando só no domingo. Não... e o pior dublo é que eu acabo aceitando o convite de domingo. E nem sei o motivo pra ter aceitado isto.

- Eu sei o motivo. É que tu lá no fundo me ama. - falo tentando angariar um sorriso e aliviar a tensão no ar, já tá dando para cortar com faca a nuvem negra que tá no ar.

Ela sorri e eu agradeço aos deuses do rock por terem me dado este humor idiota que as mulheres sempre gostam em mim.

- É... eu te amo, mas não é como tu tá pensando, não fica convencido, eu te amo por saber que tu é um idiota de bom coração e que se não fosse eu, tu ia ter uma vida pior do que a merda do que tu vive. E olha que tu vive numa merda desgraçada desde que eu te conheço.

- Ei... calma lá, quem me merece um pedido de desculpas sou eu agora.

- Jura que merece! E não discute comigo que eu não te compro pipoca no cinema.  E outra, para um pouquinho de reclamar da Carol pelo menos hoje, pois a coisa podia ser bem mais estranha se tu estive em um jantar com a Rose.

- Não entendi.

- Nem tenta, pois tu te escapou de sentir cheiro de gardênias no jantar. - e ela fala isto explodindo em uma gargalhada encantadora.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

capítulo 35

Já faz uma semana que não falo com a Paulinha, desde aquela noite em que ela me falou que está com câncer, não soube o que fazer. Pensei em ligar várias vezes, mas na minha cabeça sempre ficava aquela coisa chata do tipo " o que que eu falo". Pior é que sempre sou assim, não tenho jeito para falar ou lidar direito com as pessoas e muito menos em situações que exijam uma certa atenção.

Eu sei, eu sei, parece uma coisa muito fria da minha parte eu agir desta maneira, mas fazer o quê, eu sou um merda mesmo.

É capaz de eu ligar pra ela e acabar algo do tipo "Tu tá melhor", como se ela estivesse com uma gripe e não com câncer.

Droga... eu sou covarde ao extremo e isto não pode continuar assim, pelo menos não no caso da Paulinha, ela é a minha melhor amiga, eu respeito muito ela, admiro ela pra carai e mesmo pensando umas bobagens sexuais, jamais faria  a merda de estragar o que nós temos.

É isso, eu vou falar com ela... e melhor, não vou ligar, vou pegar ela no trabalho e convidar pra ir no cinema e depois ela vir aqui pra casa pra gente comer alguma coisa e escutar música.

domingo, 31 de março de 2013

capítulo 34

Comer aquele cachorro-quente foi estranho, depois da Paulinha falar que tem câncer eu não tive como falar mais nada, qualquer coisa que eu fosse dizer sobre minhas loucuras sentimentais e minhas trapalhadas sobre a Carol seria muito pequeno perto do problema dela.

Comemos em silêncio, levantamos e fomos até a casa dela sem falar nada. Ao chegarmos parei em frente à porta e fiquei olhando para ela. Paulinha também não disse nada, me olhou bem nos olhos e nos abraçamos com força. Aquele momento pareceu durar uma eternidade, e no fundo eu queria que durasse isto. Ela me dá um beijo no rosto e entra.

Saio dali e vou direto pra casa, ao chegar pego um antigo vinil do The Cult que Paulinha me deu e coloco na faixa 3 do lado B do álbum "Love". "Revolution" começa a tocar e eu caio no choro.

quarta-feira, 27 de março de 2013

capítulo 33

Depois de todas que tomamos no Bar do Garça, Paulinha e eu resolvemos sair a pé para comer alguma coisa. O carro dela ficou no estacionamento e amanhã a gente pegava.

Caminhando pela Bozano vamos de braço dado, jogando conversa fora sobre qual repertório a banda teria agora.

- Eu não vou abrir mão de toda atitude punk que a gente tinha naquela época. - já saio defendendo as coisas sem nem ter ensaio marcado.

Ela me olha séria.

- Nem tinha imaginado isto. - mas logo já sorri - Só acho que tu não precisa mais vomitar no palco na hora de começar o show.

- Tu sempre vai me jogar isto na cara né?

- Claro! - ela diz, para logo depois explodir em uma risada.

- Tá, mas tu tem que concordar comigo que foi o melhor show que a banda fez.

Nós acabamos nos acomodando em um carro de cachorro-quente que tem na Floriano na frente do colégio Santa Maria.

- Dois cachorros calabresa no bafo, com bastante mostarda.

- Tu sabe de cor o que eu gosto Soda. Tu sempre vai ser um amor de  cavalheirismo.

Eu sento no chão ao lado dela, os dois encostados no muro do colégio. De um carro próximo toca   "So High" do Here Is Your Temple. Não sei porque, mas me sinto bem ao escutar esta música ao lado dela, falando sobre a banda, rindo, sem pensar na... Carol.

Droga... sempre Carol... minha cabeça tá mais fodida do que eu pensava, numa hora quero Paulinha, noutra hora só penso em Carol. Definitivamente eu tenho problemas.

Deixa eu pensar me outra coisa.

- Tá Paulinha, mas por que este grande interesse pelo retorno da banda e todo o papo de o quanto era bom aqueles tempos e tudo mais.

- É que talvez eu queria voltar no tempo. - percebo que ela muda o modo de falar e parece cabisbaixa - ou talvez não queira mais perder tempo com bobagens e queira aproveitar a vida da melhor maneira possível, retomando tudo o que o que eu queria ter feito e não fiz.

- Tá, e por que a pressa?

- Pra não perder tempo.

Ela séria, eu tento falar bobagens, como sempre, para ver se descontraio a coisa toda.

- E pressa pra quê? Vai morrer por acaso?

Ela não fala nada.

- Paulinha? - eu falo com medo do que ela possa falar e eu não queira ouvir.

- Eu tenho câncer Soda.

Eu não falo mais nada. Ficamos os dois olhando para frente, escutando a música que continua a tocar ao fundo.

- Dois calabresa no bafo com bastante mostarda!

O cara do cachorrão chama, mas eu não me movo.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

capítulo 32

Depois te algumas cervejas e duas doses de cachaça pra cada, Paulinha e eu não paramos mais de rir. Falamos sobre música, filmes antigos e morte de astros do rock. Pelo menos com isto não estou pensando nenhuma bobagem com ela, e quando falo bobagem me refiro ao contexto sexual da coisa. 

Merda! Já tô pensando nisto de novo! Esquece isto e presta atenção no que ela tá falando com esta boca deliciosa que ela tem e que eu nunca tinha notado.

- ...e daí ela simplesmente tava toda vomitada em cima da minha cama. Fiquei puta com a guria! Era só o que me faltava, só porque a gente é colega de trabalho e tá se dando bem, eu tenho que aguentar as fiasqueiras dela? Comigo não!

Eu finjo interesse.

- Tá, e tu fez o quê?

- Nada, fui dormir na sala e deixei a bêbada lá no quarto.

- Bêbado é uma merda mesmo.

- Eu é que o diga de ti.

- Como assim? O que que eu fiz?

-Ah... tu não lembra?

Me faço de desentendido.

- Eu não lembro de nada.

- Então deixa eu te lembrar que se não fosse eu, nos anos de 1991 e 1992, tu teria se afogado em vômito umas 730 vezes, já que em cada show da banda de vocês... pior... em cada ensaio da banda, tu tomava um porre de vodka enorme e depois ficava caindo pelo chão feito uma cópia barata do Sid Vicious.

- Poxa, e eu achando que eu agradava. Eram as minhas melhores performances.

- Sei. - ela diz enquanto pede mais duas cachaças pra nós - Ficar de trago agora é performance... tô sabendo.

Eu fico rindo, admirado em como ela consegue lembrar, e o pior, gostar dos shows que fazíamos.

- Tá... - ela muda o tom de voz e parece me intimar - ...mas o que eu quero saber é: a banda volta ou não volta?

- Eu pensei sobre o que tu falou, e até que me deu vontade de reunir os guris de novo, afinal faz um tempão que a gente não se fala. Deve ser bom ver todo o pessoal depois de velho, tudo pai de família...

- Tirando tu né?! - ela fala isso quase sem controlar o riso.

- Eu sei, eu sei... tirando eu.

- Tá, e sai ou não sai esta merda de reencontro, tá te achando estrela. Credo, é mais difícil reunir vocês do que o Led Zeppelin.

- Tá, vai sair, eu só tenho que entrar em contato com os guris.

- Há! - dando um tapa na mesa - Eu sabia que iria rolar. - enquanto ela fala vejo que parece que está reunião é algo muito importante pra ela.

- Tá e daí. - eu falo com a mesma cara de besta que tive a vida inteira.

- Foi pensando que você gostaria da ideia, mas ao mesmo tempo ia ficar se cagando quarenta anos que eu já tomei a iniciativa e já entrei em contato com todos eles e todos já me confirmaram que tão a fim de voltar a banda.

Fico quieto, só admirando o sorriso dela. Esta guria é foda mesmo.

domingo, 6 de janeiro de 2013

cápitulo 31

Já é quase noite, ou seja, tá naquele horário agradável do lusco-fusco, quando a coisa toda se perde entre luz e sombra. 

Resolvi ligar para a Paulinha para ela me encontrar no bar do Garça. Cheguei mais cedo para dar tempo do que pensar, pois depois do papo de ontem minha cabeça ficou toda confusa. É muita coisa pra mim, a Carol voltando a falar comigo, eu misturando a amizade da Paulinha com uma algo a mais e ainda por cima, esta vontade saudosista de reencontrar o pessoal da banda e consequentemente de voltar com a banda.

Voltar com banda... só de pensar nisto eu já fico rindo... de nervoso, como será este reencontro depois de 20 anos?

A Paulinha entra no bar e meu mundo se ilumina. Puta merda, já tô pensando idiotice de novo, é melhor esquecer estás ideias de uma vez, ficar pirado com a Carol já é o suficiente pra mim.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

capítulo 30

"Scoundrel Days" do A-ha toca no som ("... enquanto nossas vidas se fazem, acreditamos que por entre mentiras e o ódio, o amor corre livre...") e fico pensando na conversa que tive com Paulinha.

Voltar com a banda? Parece meio estúpido da minha parte pensar nisto agora, nesta etapa da minha vida, mas ao mesmo tempo, se eu for ver bem, tudo que ando fazendo na minha vida é um sequência de imbecilidades.

Mas será que algum dos guris ainda teria vontade de tocar? Já são mais de vinte anos desde nossa última apresentação em um show - a fatídica apresentação no Bar in Bar ali da Bozano - e é deste período, mais ou menos, a última vez que nos vimos.

Bem... estar enferrujado não seria o problema principal pois naquela época já não tocávamos nada mesmo, então neste quesito talvez o tempo até tenha melhorado algo... vai saber.

Deixa ver se eu lembro, mas acredito que a formação da banda, depois de 4 formações diferentes em menos de seis meses, naquele último show em Abril de 1992 era: Pia Envolvente na bateria, Jesus Patente no baixo, Geleia na guitarra e eu na voz (na verdade eram gritos e sussurros). O repertório era basicamente 7 músicas nossas (letras minhas e do Jesus Patente e música de toda banda) que incluíam coisas bizarras como "Spring", "White Walls" e "I Want To Lick Your White Skin" e mais 7 covers que eram  "God Save The Queen" dos Sex Pistols, "Boys Don't Cry" do The Cure, "Surfista Calhorda" dos Replicantes, "Rock'N'Roll" do Led Zeppelin, "Ziggy Stardust" do Bowie, "London Calling" do The Clash e uma versão hard-core de "Souvenir" do OMD, ou seja, éramos ecléticos com um ótimo gosto.

Sabe, pensando bem, não éramos ruins, quer dizer, éramos sim, mas afinal de contas isso não importa, rock sempre foi isso... incomodar, barulho, distorção, sexo e rebeldia infanto-juvenil.

Rebeldia juvenil... é... com a minha idade só sendo um imbecil para falar assim nisto. Mas como eu disse, sempre fiz coisas imbecis mesmo, talvez esteja na hora de eu fazer mais merda mesmo.