"Everyday is Like Sunday" do Morrissey toca no som do carro e aproveito para aumentar o volume.
Paulinha e eu ainda não conversamos nada direito e estamos em silêncio esperando nossos cachorros-quentes em frente ao trailer do Come Cão.
A Paulinha é o tipo de guria ideal: se veste como uma rockeira chic, ou seja, usa bota de cowboy feita de couro de cobra, short jeans todo rasgado e camiseta do The Cult, é culta, ganha tri bem trabalhando como arquiteta e é apaixonada pelo The Clash. Mas mesmo com tudo isso eu nunca fui a fim dela e nem ela a fim de mim, o que acabou acontecendo é que nos tornamos meio que irmãos, sempre um cuidando do outro.
Ela pega a minha mão.
- Quer falar?
- Não.
- Tu sabe que uma hora, um dia, tu vai ter que falar e conversar sobre isso.
- Mas hoje não é o dia.
Um anão usando uma camiseta duas vezes maior que o tamanho dele, o que não é muito difícil, traz os nossos lanches até o carro, interrompendo a conversa.
- Dois cachorros de calabresa.
- Isso mesmo.
- E pra beber?
- Duas Pepsis.
O anão se afasta para buscar os refris e eu fico cuidando ele.
- Tu reparou que ele tinha a voz do Pato Donald?
- Soda, tu tem um problema!
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