Depois do filme, Paulinha e eu caminhamos por uma Avenida das Dores vazia. Estamos em silêncio e isto me perturba. Não sei o que falar pra ela, pior... não sei como ser uma pessoa agradável sabendo que ela está com algum problema. Tenho medo de falar até. Vai saber se não vou falar alguma coisa delicada. Poxa vida, eu nuca falei com alguém que está doente desta forma.
Penso em algum filme que tenha visto e lembro da música "Streets of Philadelphia" do Bruce Springsteen. bem que eu podia ter este dom para comentar sobre coisas tristes, saber poetizar sobre algo assim. Será que existe o termo poetizar? Será que eu inventei isto agora? Cara, do que eu tô falando, já tô pensando nas minhas merdas de novo ao invés de falar algo para a Paulinha.
Porras, ela tá tão bonita, como é que pode tá doente? Não posso acreditar nisto. Se bem que eu sou meio tapado mesmo, vai ver as pessoas doentes ficam assim e eu é que não note nada. Pouts, penseiem algo de novo e não falei nada.
Fala seu merda! Fala!
- Paulinha...
- O quê? - ela fala com um tom frio na voz.
- Eu não...
O meu celular toca, eu pego e vejo que é Carol. Que que eu faço? Que que eu faço?
- Atende duma vez Soda.
- Tá. - ainda bem que ela falou algo - Só vou atender e já te falo o que eu ia dizer. Ela nem repara na minha resposta, está olhando para o outro lado da rua e não vejo sua expressão.
- Alô.
- Oi Soda. - pourras, Carol! É a Carol! - Eu tô te ligando para marcar de falar contigo de novo, mas ninguém pode saber. Me encontra no Garça daqui a meia hora. Beijos.
Ela desliga e eu fico mudo. Olho para Paulinha.
- Paulinha...
- Vai Soda, nem me explica, apenas vai e te vira, mas não me liga durante um bom tempo.
Eu baixo a cabeça, não falo nada e disparo no meio da rua, acelerando o passo para chegar até o bar do Garça em meia hora.
Eu realmente sou um merda egoísta.
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