quarta-feira, 27 de março de 2013

capítulo 33

Depois de todas que tomamos no Bar do Garça, Paulinha e eu resolvemos sair a pé para comer alguma coisa. O carro dela ficou no estacionamento e amanhã a gente pegava.

Caminhando pela Bozano vamos de braço dado, jogando conversa fora sobre qual repertório a banda teria agora.

- Eu não vou abrir mão de toda atitude punk que a gente tinha naquela época. - já saio defendendo as coisas sem nem ter ensaio marcado.

Ela me olha séria.

- Nem tinha imaginado isto. - mas logo já sorri - Só acho que tu não precisa mais vomitar no palco na hora de começar o show.

- Tu sempre vai me jogar isto na cara né?

- Claro! - ela diz, para logo depois explodir em uma risada.

- Tá, mas tu tem que concordar comigo que foi o melhor show que a banda fez.

Nós acabamos nos acomodando em um carro de cachorro-quente que tem na Floriano na frente do colégio Santa Maria.

- Dois cachorros calabresa no bafo, com bastante mostarda.

- Tu sabe de cor o que eu gosto Soda. Tu sempre vai ser um amor de  cavalheirismo.

Eu sento no chão ao lado dela, os dois encostados no muro do colégio. De um carro próximo toca   "So High" do Here Is Your Temple. Não sei porque, mas me sinto bem ao escutar esta música ao lado dela, falando sobre a banda, rindo, sem pensar na... Carol.

Droga... sempre Carol... minha cabeça tá mais fodida do que eu pensava, numa hora quero Paulinha, noutra hora só penso em Carol. Definitivamente eu tenho problemas.

Deixa eu pensar me outra coisa.

- Tá Paulinha, mas por que este grande interesse pelo retorno da banda e todo o papo de o quanto era bom aqueles tempos e tudo mais.

- É que talvez eu queria voltar no tempo. - percebo que ela muda o modo de falar e parece cabisbaixa - ou talvez não queira mais perder tempo com bobagens e queira aproveitar a vida da melhor maneira possível, retomando tudo o que o que eu queria ter feito e não fiz.

- Tá, e por que a pressa?

- Pra não perder tempo.

Ela séria, eu tento falar bobagens, como sempre, para ver se descontraio a coisa toda.

- E pressa pra quê? Vai morrer por acaso?

Ela não fala nada.

- Paulinha? - eu falo com medo do que ela possa falar e eu não queira ouvir.

- Eu tenho câncer Soda.

Eu não falo mais nada. Ficamos os dois olhando para frente, escutando a música que continua a tocar ao fundo.

- Dois calabresa no bafo com bastante mostarda!

O cara do cachorrão chama, mas eu não me movo.

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