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sábado, 31 de agosto de 2013

capítulo 39

Tá... e agora? O que que eu vou fazer da minha vida? Tô sem trabalho, acho que com as decisões idiotas que estou tomando, perdi a minha melhor amiga e ontem a Carol me intimou pra comprar uma moto e fugir com ela.

Que que eu faço?

E a banda? quando resolvo fazer algo, ou melhor, retomar algo que eu achava ser a melhor coisa da minha vida, volta toda essa merda com Carol. Puta que me lambeu! Por que que eu tinha que ama tanto esta mulher? E por que que ela tinha que ser tão gostosa?

E a Paulinha que está doente e eu estou virando as costas pra ela... o que que eu faço?

Ela quer comprar uma moto no próximo sábado e eu não sei o que fazer. Será que ela quer que eu pague a moto? Puta merda... não tinha pensado nisso, se for isso que ela quer eu tô fodido, pois vou ter que gastar toda a minha poupança pra fazer isto. Só que se eu não fizer, ela não vai querer ficar comigo. Mas também... não tem cabimento ela ficar comigo só por causa desta condição, ela não deveria se importar com estas coisas se ela me ama.

Eu tô só piorando a minha vida. só tô fazendo merda e agora não tenho nem coragem de falar com a Paulinha depois de ter deixado ela sozinha quando ela mais precisou de mim.

Que que eu faço? Compro a moto e fujo com a Carol? Esqueço tudo e monto a banda? Quem sabe eu fico com a Rose, ela é bem acessível... é... é isso que eu vou fazer, vou ligar pra Rose?

Não! Não posso fazer isso, vou aguentar e ficar com a Carol, afinal ela é o amor da minha vida... ou não.

Eu sou um merda!

domingo, 23 de junho de 2013

capítulo 37

Depois do filme, Paulinha e eu caminhamos por uma Avenida das Dores vazia. Estamos em silêncio e isto me perturba. Não sei o que falar pra ela, pior... não sei como ser uma pessoa agradável sabendo que ela está com algum problema. Tenho medo de falar até. Vai saber se não vou falar alguma coisa delicada. Poxa vida, eu nuca falei com alguém que está doente desta forma.

Penso em algum filme que tenha visto e lembro da música "Streets of Philadelphia" do Bruce Springsteen. bem que eu podia ter este dom para comentar sobre coisas tristes, saber poetizar sobre algo assim. Será que existe o termo poetizar? Será que eu inventei isto agora? Cara, do que eu tô falando, já tô pensando nas minhas merdas de novo ao invés de falar algo para a Paulinha.

Porras, ela tá tão bonita, como é que pode tá doente? Não posso acreditar nisto. Se bem que eu sou meio tapado mesmo, vai ver as pessoas doentes ficam assim e eu é que não note nada. Pouts, penseiem algo de novo e não falei nada.

Fala seu merda! Fala!

- Paulinha...

- O quê? - ela fala com um tom frio na voz.

- Eu não...

O meu celular toca, eu pego e vejo que é Carol. Que que eu faço? Que que eu faço?

- Atende duma vez Soda.

- Tá. - ainda bem que ela falou algo - Só vou atender e já te falo o que eu ia dizer. Ela nem repara na minha resposta, está olhando para o outro lado da rua e não vejo sua expressão.

- Alô.

- Oi Soda. - pourras, Carol! É a Carol! - Eu tô te ligando para marcar de falar contigo de novo, mas ninguém pode saber. Me encontra no Garça daqui a meia hora. Beijos.

Ela desliga e eu fico mudo. Olho para Paulinha.

- Paulinha...

- Vai Soda, nem me explica, apenas vai e te vira, mas não me liga durante um bom tempo.

Eu baixo a cabeça, não falo nada e disparo no meio da rua, acelerando o passo para chegar até o bar do Garça em meia hora.

Eu realmente sou um merda egoísta.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

capítulo 36

Paulinha e eu caminhamos pela rua do Acampamento vazia.

- Domingo é sempre assim né? - eu falo tentando quebrar o gelo.

- Pra mim, as vezes Santa Maria parece sempre assim, mas sei que não é isso.

- E o que é então? - digo com medo de ouvir a resposta.

- Talvez seja por eu falar algo sério pro meu melhor amigo e ele ficar uma semana sem me ligar. E pior, quando liga, fala que vai me pegar na sexta para irmos no trabalho e acaba passando só no domingo. Não... e o pior dublo é que eu acabo aceitando o convite de domingo. E nem sei o motivo pra ter aceitado isto.

- Eu sei o motivo. É que tu lá no fundo me ama. - falo tentando angariar um sorriso e aliviar a tensão no ar, já tá dando para cortar com faca a nuvem negra que tá no ar.

Ela sorri e eu agradeço aos deuses do rock por terem me dado este humor idiota que as mulheres sempre gostam em mim.

- É... eu te amo, mas não é como tu tá pensando, não fica convencido, eu te amo por saber que tu é um idiota de bom coração e que se não fosse eu, tu ia ter uma vida pior do que a merda do que tu vive. E olha que tu vive numa merda desgraçada desde que eu te conheço.

- Ei... calma lá, quem me merece um pedido de desculpas sou eu agora.

- Jura que merece! E não discute comigo que eu não te compro pipoca no cinema.  E outra, para um pouquinho de reclamar da Carol pelo menos hoje, pois a coisa podia ser bem mais estranha se tu estive em um jantar com a Rose.

- Não entendi.

- Nem tenta, pois tu te escapou de sentir cheiro de gardênias no jantar. - e ela fala isto explodindo em uma gargalhada encantadora.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

capítulo 35

Já faz uma semana que não falo com a Paulinha, desde aquela noite em que ela me falou que está com câncer, não soube o que fazer. Pensei em ligar várias vezes, mas na minha cabeça sempre ficava aquela coisa chata do tipo " o que que eu falo". Pior é que sempre sou assim, não tenho jeito para falar ou lidar direito com as pessoas e muito menos em situações que exijam uma certa atenção.

Eu sei, eu sei, parece uma coisa muito fria da minha parte eu agir desta maneira, mas fazer o quê, eu sou um merda mesmo.

É capaz de eu ligar pra ela e acabar algo do tipo "Tu tá melhor", como se ela estivesse com uma gripe e não com câncer.

Droga... eu sou covarde ao extremo e isto não pode continuar assim, pelo menos não no caso da Paulinha, ela é a minha melhor amiga, eu respeito muito ela, admiro ela pra carai e mesmo pensando umas bobagens sexuais, jamais faria  a merda de estragar o que nós temos.

É isso, eu vou falar com ela... e melhor, não vou ligar, vou pegar ela no trabalho e convidar pra ir no cinema e depois ela vir aqui pra casa pra gente comer alguma coisa e escutar música.

domingo, 31 de março de 2013

capítulo 34

Comer aquele cachorro-quente foi estranho, depois da Paulinha falar que tem câncer eu não tive como falar mais nada, qualquer coisa que eu fosse dizer sobre minhas loucuras sentimentais e minhas trapalhadas sobre a Carol seria muito pequeno perto do problema dela.

Comemos em silêncio, levantamos e fomos até a casa dela sem falar nada. Ao chegarmos parei em frente à porta e fiquei olhando para ela. Paulinha também não disse nada, me olhou bem nos olhos e nos abraçamos com força. Aquele momento pareceu durar uma eternidade, e no fundo eu queria que durasse isto. Ela me dá um beijo no rosto e entra.

Saio dali e vou direto pra casa, ao chegar pego um antigo vinil do The Cult que Paulinha me deu e coloco na faixa 3 do lado B do álbum "Love". "Revolution" começa a tocar e eu caio no choro.

quarta-feira, 27 de março de 2013

capítulo 33

Depois de todas que tomamos no Bar do Garça, Paulinha e eu resolvemos sair a pé para comer alguma coisa. O carro dela ficou no estacionamento e amanhã a gente pegava.

Caminhando pela Bozano vamos de braço dado, jogando conversa fora sobre qual repertório a banda teria agora.

- Eu não vou abrir mão de toda atitude punk que a gente tinha naquela época. - já saio defendendo as coisas sem nem ter ensaio marcado.

Ela me olha séria.

- Nem tinha imaginado isto. - mas logo já sorri - Só acho que tu não precisa mais vomitar no palco na hora de começar o show.

- Tu sempre vai me jogar isto na cara né?

- Claro! - ela diz, para logo depois explodir em uma risada.

- Tá, mas tu tem que concordar comigo que foi o melhor show que a banda fez.

Nós acabamos nos acomodando em um carro de cachorro-quente que tem na Floriano na frente do colégio Santa Maria.

- Dois cachorros calabresa no bafo, com bastante mostarda.

- Tu sabe de cor o que eu gosto Soda. Tu sempre vai ser um amor de  cavalheirismo.

Eu sento no chão ao lado dela, os dois encostados no muro do colégio. De um carro próximo toca   "So High" do Here Is Your Temple. Não sei porque, mas me sinto bem ao escutar esta música ao lado dela, falando sobre a banda, rindo, sem pensar na... Carol.

Droga... sempre Carol... minha cabeça tá mais fodida do que eu pensava, numa hora quero Paulinha, noutra hora só penso em Carol. Definitivamente eu tenho problemas.

Deixa eu pensar me outra coisa.

- Tá Paulinha, mas por que este grande interesse pelo retorno da banda e todo o papo de o quanto era bom aqueles tempos e tudo mais.

- É que talvez eu queria voltar no tempo. - percebo que ela muda o modo de falar e parece cabisbaixa - ou talvez não queira mais perder tempo com bobagens e queira aproveitar a vida da melhor maneira possível, retomando tudo o que o que eu queria ter feito e não fiz.

- Tá, e por que a pressa?

- Pra não perder tempo.

Ela séria, eu tento falar bobagens, como sempre, para ver se descontraio a coisa toda.

- E pressa pra quê? Vai morrer por acaso?

Ela não fala nada.

- Paulinha? - eu falo com medo do que ela possa falar e eu não queira ouvir.

- Eu tenho câncer Soda.

Eu não falo mais nada. Ficamos os dois olhando para frente, escutando a música que continua a tocar ao fundo.

- Dois calabresa no bafo com bastante mostarda!

O cara do cachorrão chama, mas eu não me movo.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

capítulo 32

Depois te algumas cervejas e duas doses de cachaça pra cada, Paulinha e eu não paramos mais de rir. Falamos sobre música, filmes antigos e morte de astros do rock. Pelo menos com isto não estou pensando nenhuma bobagem com ela, e quando falo bobagem me refiro ao contexto sexual da coisa. 

Merda! Já tô pensando nisto de novo! Esquece isto e presta atenção no que ela tá falando com esta boca deliciosa que ela tem e que eu nunca tinha notado.

- ...e daí ela simplesmente tava toda vomitada em cima da minha cama. Fiquei puta com a guria! Era só o que me faltava, só porque a gente é colega de trabalho e tá se dando bem, eu tenho que aguentar as fiasqueiras dela? Comigo não!

Eu finjo interesse.

- Tá, e tu fez o quê?

- Nada, fui dormir na sala e deixei a bêbada lá no quarto.

- Bêbado é uma merda mesmo.

- Eu é que o diga de ti.

- Como assim? O que que eu fiz?

-Ah... tu não lembra?

Me faço de desentendido.

- Eu não lembro de nada.

- Então deixa eu te lembrar que se não fosse eu, nos anos de 1991 e 1992, tu teria se afogado em vômito umas 730 vezes, já que em cada show da banda de vocês... pior... em cada ensaio da banda, tu tomava um porre de vodka enorme e depois ficava caindo pelo chão feito uma cópia barata do Sid Vicious.

- Poxa, e eu achando que eu agradava. Eram as minhas melhores performances.

- Sei. - ela diz enquanto pede mais duas cachaças pra nós - Ficar de trago agora é performance... tô sabendo.

Eu fico rindo, admirado em como ela consegue lembrar, e o pior, gostar dos shows que fazíamos.

- Tá... - ela muda o tom de voz e parece me intimar - ...mas o que eu quero saber é: a banda volta ou não volta?

- Eu pensei sobre o que tu falou, e até que me deu vontade de reunir os guris de novo, afinal faz um tempão que a gente não se fala. Deve ser bom ver todo o pessoal depois de velho, tudo pai de família...

- Tirando tu né?! - ela fala isso quase sem controlar o riso.

- Eu sei, eu sei... tirando eu.

- Tá, e sai ou não sai esta merda de reencontro, tá te achando estrela. Credo, é mais difícil reunir vocês do que o Led Zeppelin.

- Tá, vai sair, eu só tenho que entrar em contato com os guris.

- Há! - dando um tapa na mesa - Eu sabia que iria rolar. - enquanto ela fala vejo que parece que está reunião é algo muito importante pra ela.

- Tá e daí. - eu falo com a mesma cara de besta que tive a vida inteira.

- Foi pensando que você gostaria da ideia, mas ao mesmo tempo ia ficar se cagando quarenta anos que eu já tomei a iniciativa e já entrei em contato com todos eles e todos já me confirmaram que tão a fim de voltar a banda.

Fico quieto, só admirando o sorriso dela. Esta guria é foda mesmo.

domingo, 6 de janeiro de 2013

cápitulo 31

Já é quase noite, ou seja, tá naquele horário agradável do lusco-fusco, quando a coisa toda se perde entre luz e sombra. 

Resolvi ligar para a Paulinha para ela me encontrar no bar do Garça. Cheguei mais cedo para dar tempo do que pensar, pois depois do papo de ontem minha cabeça ficou toda confusa. É muita coisa pra mim, a Carol voltando a falar comigo, eu misturando a amizade da Paulinha com uma algo a mais e ainda por cima, esta vontade saudosista de reencontrar o pessoal da banda e consequentemente de voltar com a banda.

Voltar com banda... só de pensar nisto eu já fico rindo... de nervoso, como será este reencontro depois de 20 anos?

A Paulinha entra no bar e meu mundo se ilumina. Puta merda, já tô pensando idiotice de novo, é melhor esquecer estás ideias de uma vez, ficar pirado com a Carol já é o suficiente pra mim.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

capítulo 30

"Scoundrel Days" do A-ha toca no som ("... enquanto nossas vidas se fazem, acreditamos que por entre mentiras e o ódio, o amor corre livre...") e fico pensando na conversa que tive com Paulinha.

Voltar com a banda? Parece meio estúpido da minha parte pensar nisto agora, nesta etapa da minha vida, mas ao mesmo tempo, se eu for ver bem, tudo que ando fazendo na minha vida é um sequência de imbecilidades.

Mas será que algum dos guris ainda teria vontade de tocar? Já são mais de vinte anos desde nossa última apresentação em um show - a fatídica apresentação no Bar in Bar ali da Bozano - e é deste período, mais ou menos, a última vez que nos vimos.

Bem... estar enferrujado não seria o problema principal pois naquela época já não tocávamos nada mesmo, então neste quesito talvez o tempo até tenha melhorado algo... vai saber.

Deixa ver se eu lembro, mas acredito que a formação da banda, depois de 4 formações diferentes em menos de seis meses, naquele último show em Abril de 1992 era: Pia Envolvente na bateria, Jesus Patente no baixo, Geleia na guitarra e eu na voz (na verdade eram gritos e sussurros). O repertório era basicamente 7 músicas nossas (letras minhas e do Jesus Patente e música de toda banda) que incluíam coisas bizarras como "Spring", "White Walls" e "I Want To Lick Your White Skin" e mais 7 covers que eram  "God Save The Queen" dos Sex Pistols, "Boys Don't Cry" do The Cure, "Surfista Calhorda" dos Replicantes, "Rock'N'Roll" do Led Zeppelin, "Ziggy Stardust" do Bowie, "London Calling" do The Clash e uma versão hard-core de "Souvenir" do OMD, ou seja, éramos ecléticos com um ótimo gosto.

Sabe, pensando bem, não éramos ruins, quer dizer, éramos sim, mas afinal de contas isso não importa, rock sempre foi isso... incomodar, barulho, distorção, sexo e rebeldia infanto-juvenil.

Rebeldia juvenil... é... com a minha idade só sendo um imbecil para falar assim nisto. Mas como eu disse, sempre fiz coisas imbecis mesmo, talvez esteja na hora de eu fazer mais merda mesmo.

terça-feira, 20 de março de 2012

capítulo 29

Depois de tomar todas e mais algumas com a Paulinha no Cristal, saímos e resolvemos andar um pouco. Ela caminha um passo na minha frente e eu reparo nos cabelos presos dela que deixam cair alguns fios sobre a nuca.

- Que foi Soda?

Ela pergunta e eu volto ao frio da realidade.

- Nada não, tava longe, pensando bobagem.

- Sei... - ela fala com um leve sorriso na boca - tu tá sempre longe, sempre viajando, sempre sonhando... cara, tá na hora de fazer alguma coisa legal pra ti. O que que tu tem vontade de fazer?

Eu penso "te comer agora, neste momento", mas é claro que isso não sai de dentro da minha cabeça.

- Eu? Nada... não sei... ah sei lá, não me vem nada em mente.

Passamos por uns moleques que estão escutando música na rua, música ruim diga-se de passagem.

- Olha só estes pias escutando música ruim. - ela fala apontando para os guris - tá cheio de pia escutando uns lixos de música ou tocando uns lixos de música, por que tu não faz uma coisa útil e volta com a banda? Desde aquele show no antigo Bar In Bar que tu vomitou no palco tu não mais tocou.

- Acho que o fato de eu ter vomitado no palco já é um bom indicativo que a coisa parou na hora certa.

- Que nada! - ela fala com aquela empolgação que eu admiro na Paulinha - Vocês eram a banda mais legal de Santa Maria.

- Mas ninguém gostava da gente!

- Por isso que vocês eram legais, vocês só tocavam o que queriam e tavam se lixando para o público.

Enquanto ela fala lembro das confusões daquela época e como tudo parecia mais simples. Como os amores eram mais divertidos.

Ela continua falando:

- Ia ser bom pra ti se a banda voltasse.

- Tá... - eu falo sem muita convicção, falo mais por ter me apaixonado pelas palavras e pela alegria dela em falar da banda - pode ser que tu esteja certa.

- É claro que eu tenho! - ela sorri como uma menina, uma groupie que está trabalhando no retorno da sua banda do coração - e o mais legal é que agora eu for ser a responsável pela banda.

- Xi... o que tu tá inventando?

- Nada - ela diz sorrindo - vamos unir duas coisas na volta da banda: tu exorciza a Carol da tua vida e eu viro empresária de banda de rock.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

capítulo 28

Paulinha está falando algo sobre a vez que a Angela Bowie pegou o David Bowie e o Mick Jagger na cama, só que não consigo prestar atenção no que ela diz, minha cabeça tá mais confusa do que de costume com a ideia de amar a Carol e sentir uma atração pela Paulinha.

- Soda? - ela diz e eu caio na real - Tá me escutando?

- Claro que tô!

- Até imagino - ela me olha direto nos olhos e eu fico gelado - só pode estar pensando na Carol.

- Pior que não. - falo sem muita convicção.

- Espero, pois tá na hora de tu tirar aquela guria da cabeça.

- Tá mas qual é o motivo de tu querer tanto isso?

- Não gosto de ver um amigo meu sofrendo assim como tu tá.

"Amigo", é bom eu notar e ouvir muito bem isso... ela só me quer como amigo.

- É, chega de pensar em Carol - tento pensar com clareza - o negócio é fuleragem e rock'n'roll.

- É isso aí meu caro - ela levanta o copo para um brinde - um brinde ao sexo violento e ao rock barulhento.

Brindamos e tomamos um grande gole de cerveja. Paulinha larga o copo e abre um largo e lindo sorriso e eu não consigo pensar em outra coisa: "sexo violento". Minha mente se forra de ideias libidinosas de Paulinha nua, de quatro, se mostrando pra mim.

Merda, eu sou um doente mental!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

capítulo 27

Paulinha chega meia hora depois e eu já estava na terceira cerveja.

Ela entra, me vê e senta comigo.

- Que que houve Soda?

- Nada - eu digo sem parecer muito convincente.

Ela sorri, faz um sinal para o garçom e volta a me olhar.

- Para com isso que tu não me engana de jeito nenhum, pra tu tá com essa cara e já estar bebendo é porque alguma coisa houve e se bem te conheço só pode ser alguma coisa com mulher, o que no teu caso significa... Carol!

Eu não sei porque eu não amo esta mulher, ela é bonita, rica, tem bom gosto musical, tem estilo para se vestir e me trata como nenhuma outra jamais me tratou. Por que meu Deus que eu tenho que gostar daquela vaca da Carol?

O garçom chega, Paulinha pede uma caipirinha e de forma magistral como só uma musa consegue fazer, arruma os lindos cabelos em um coque que deixam alguns poucos fios caídos naquele pescoço lindo. Só um pouco... por que eu estou falando desta maneira? Era só o que me faltava, além de amar a Carol, agora começar a confundir tudo com a Paulinha. 

Tô fudido!

domingo, 18 de dezembro de 2011

capítulo 26

A Carol está olhando para o outro lado, para as pessoas que passam pela rua e eu não sei o que dizer.

- Tu não vai fala nada? - ela pergunta olhando para rua.

- E o que que eu posso te dizer?

- Nem sei se eu quero que tu diga alguma coisa, na verdade...

Ela olha para mim mas não fala nada, fica me fitando e eu fico nervoso com isso, imagino todas as coisas que estão passando pela cabeça dela e não acredito que sejam coisas boas ao meu respeito.

- Na verdade o quê? - eu falo com medo de ouvir a resposta.

- Nada não é melhor eu ir embora.

Ela levanta sem me olhar, vira as costas e sai da mesma forma que chegou e eu fico ali parado, pensando no que aconteceu e se vale a pena eu ir atrás dela. Olho um casal que entra no Cristal, sorridente, mãos dadas, falando alto e demonstrando em cada gesto o amor que eles sentem. Eu fico com vontade de chorar, de levantar e ir atrás da Carol nem que seja para ela me xingar e falar algo pra mim, mas não faço um gesto sequer. 

Fico quieto, respiro e pego o celular. Chama, mas ela demora a atender.

- Paulinha... quer tomar umas cervejas comigo aqui no Cristal?

domingo, 27 de março de 2011

capítulo 19

"Dark is The Night for All" do A-ha toca na festa.
Duas gurias vestindo apenas calças de couro e nada mais se beijam e se devoram sobre a mesa de centro da sala.
Eu olho a cena mas não penso e nem sinto nada pois minha mente está longe daqui.
Paulinha fala alguma coisa mas apesar de ver seus lábios se moverem não escuto nada.
"Talvez eu tenha me enganado"... essas foram as palavras da Carol, sussurradas em meu ouvido. E não é isso que me chama mais atenção, o que não consigo esquecer é o olhar dela ao me falar isso. Não consigo para de pensar em seus olhos enquanto ela partia depois de me falar essas palavras.
A festa não significa mais nada pra mim, eu só penso no que isso pode significar,
O dj toca "Stay On These Roads" do A-ha e acho que ele está de sacanagem comigo.

capítulo 18

Chegamos na dita festa e já percebo que a casa do Kibe está transformada em uma verdadeira FUN HOUSE.
Paulinha e eu vamos de ambiente em ambiente caminhando entre cyberpunks de cabelos descoloridos, clubers vestidos com roupas ultra-coloridas de ciclistas, casais gays que se beijam com extrema paixão visceral e rockers tecnológicos viciados em morfina.
Ao entrar na sala para pegar uma cerveja na piscina infantil cheia de gelo que serve de cooler de bebidas dou de cara com Carol. Ela fica me olhando fixamente e me desconcentro.
Pego uma cerveja, abro e entrego para Paulinha, pego uma pra mim, abro e tomo um gole percebendo que Carol não tira os olhos de mim. Ela vem em minha direção. Fico nervoso e não sei o que fazer. Ela se aproxima de meu ouvido e sussurra com aquela mesma voz rouca que eu ainda amo.
- Talvez eu tenha me enganado.
Ela fala séria e se afasta de cabeça baixa enquanto toma um gole de vodka.
Eu fico imóvel.
Os primeiros acordes de "Never Surrender" do Corey Hart começam a tocar na festa e parece que o dj escolheu aquela música especialmente para mim.

domingo, 13 de março de 2011

capítulo 17

Paulinha chega na hora marcada, pontualmente, e tomamos o rumo da festa.
Ela liga o som do carro.
- Quer escutar alguma coisa?
- Qualquer coisa.
- Então, como é noite de festa, nada melhor do que começar com o primeiro do Van Halen.
Ela coloca a música e os primeiros acordes de "Runnin' With The Devil" estouram dentro do carro. Eu escuto a música e vejo que está noite promete, quem sabe sirva como um exorcismo e eu consiga tirar a puta da Carol da minha cabeça.
-Olha, eu só tenho que te dizer uma coisa. - Paulinha fala bem devagar, como se estivesse escolhendo as palavras para me dizer algo - Eu fiquei sabendo quando tava vindo te pegar.
- Fala mulher!
- A Carol vai tá na festa.
Puta merda... lá se foi meu mundo e minha confiança. É hoje a noite da minha lenta morte.

quarta-feira, 2 de março de 2011

capítulo 16

Acordo e já é noite. Acredito que isso pode ter acontecido devido a combinação do presunto azul que comi e que me fez ficar numa procissão cama-banheiro-cama com meu íntimo ser notívago que é mais chegado aos desvios da escuridão do que ao clarão da luz.
Tomo um banho, me visto e ligo para a Paulinha.
- Alou.
Sim, por incrível que pareça ela atende o telefone com essa pronúncia.
- Oi minha única amiga!
- Oi Soda, eu já ia te ligar. Queria saber como foi a noite passada pra ti.
Lembro bem do que foi minha noite passada mas prefiro não falar nada.
- Nada de anormal - falo aparentando ser um cara calmo e descolado - apenas mais uma noite assombrado pela lembrança da Carol e do que aquela puta tá fazendo junto do ex-marido.
- Ah Soda, esquece essa guria, isso já é passado!
- Fácil falar.
- Tá, olha só, eu quero o teu bem, e entendo que você está arrasado, mas agora não adinta mais pensar nisso, a vida continua e ela vai pagar pelas merdas que fez com você. Agora segue o baile e toca a tua vida.
Essa mina sabe como me fazer bem.
- Tá Paulinha, então vamos fazer alguma coisa, pois eu não quero mais ficar em casa.
- Então vamos na festa lá na casa do Kibe, eu te pego daqui uma hora, me espera lá embaixo.
- Feito, tô te esperando.
Uma festa na casa do Kibe é tudo que eu preciso para esquecer a Carol - merda, já tô pensando nela de novo - e me sentir um pouco mais vivo. Se for como a última festa que eu fui será bizarro, pois tinha um show de travestis, uma briga de anões nus, um bode chamado bendengo e uma banda de rock boliviana.
Eu nem lembro como eu cheguei em casa depois daquela festa, mas lembro que teve gente que nunca mais apareceu, e quem apareceu nunca mais foi o mesmo.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

capítulo 13

Paulinha me deixa em casa mas eu não subo, fico olhando ela partir até o carro sumir na esquina. Meu humor não melhorou mas conversar com ela já me fez sentir vivo, o que já é um começo.
Só tem um problema, não tenho coragem de subir e ficar sozinho em casa. Nem pensar! Essa hora deve ter algum boteco aberto nesta cidade. Quem sabe eu tomo todas e durmo até o ano que vem. Até lá já vou ter esquecido a Carol, ou quem sabe tomo todas e acabo descobrindo que na verdade estou dormindo.
É isso!
Eu sou apenas o meu sonho, ou o sonho de outro!
Eu sou o pesadelo de um viciado em heroína, um junk necrófilo!
Caralho, só pode ser isso, afinal, qual seria a explicação pra todas essas pessoas que sempre estão escutando pagode ao meu redor.
E se... e se... e se, porra nenhuma! Como eu penso merda inútil, há vinte minutos eu tô parado em frente ao meu prédio, simplesmente não pensando em nada e ainda não fui procurar um bar.
Eu sou um merda mesmo!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

capítulo 12

Fico olhando o cachorro quente na minha mão e suspiro.
- Adoro o cachorro aqui do "Come Cão", mas na fase que eu tô, até isso não tá bom.
- O cachorro tá ótimo, tu é que tá azedo. Eu sei qu tu tá sofrendo Soda - ela é a única pessoa que me chama assim - então desabafa de uma vez e tira essa mulher da tua cabeça.
- Tira essa dor de que jeito? É muita frustração para um homem só.
- Que frustração Soda?
- Como assim que frustração? A frustração de mais um relacionamento fodido. Eu não sou mais criança, tenho 42 anos, será que minha vida é isso? Levar foras e ficar sozinho? Eu vou acabar virando o tiozinho das festas em família!
Paulinha ri.
- Qual é a graça guria?
- Até para sofrer tu é um exagerado. Não te preocupa que tu não vai morrer sozinho.
- Como é que tu sabe disso?
- Da mesma maneira que eu sei que eu não vou ficar sozinha.
- Eu gostaria de ter essa confiança.
- Esse é o teu problema, tu não acredita em ti, isso deve ser culpa das músicas depressivas que tu escuta. Tu precisa de mais guitarra e menos baixo na tua vida.
- Ah tá! Isso só poderia vir da guria poser que ama o Motley Crüe.
- Amo mesmo seu trouxa! Cala a tua boquinha e come teu cachorro que tá pingando mostarda na tua camiseta.
- Porras, minha camiseta do Bauhaus! E agora pra tirar essa mancha amarela? Que merda, nem pra comer um cachorro quente eu sirvo!
- Tu é um cabecinha mesmo... mas eu te adoro assim.
Poxa, essa guria é muito tri. Só ela pra fazer eu rir um pouco.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

capítulo 11

"Everyday is Like Sunday" do Morrissey toca no som do carro e aproveito para aumentar o volume.
Paulinha e eu ainda não conversamos nada direito e estamos em silêncio esperando nossos cachorros-quentes em frente ao trailer do Come Cão.
A Paulinha é o tipo de guria ideal: se veste como uma rockeira chic, ou seja, usa bota de cowboy feita de couro de cobra, short jeans todo rasgado e camiseta do The Cult, é culta, ganha tri bem trabalhando como arquiteta e é apaixonada pelo The Clash. Mas mesmo com tudo isso eu nunca fui a fim dela e nem ela a fim de mim, o que acabou acontecendo é que nos tornamos meio que irmãos, sempre um cuidando do outro.
Ela pega a minha mão.
- Quer falar?
- Não.
- Tu sabe que uma hora, um dia, tu vai ter que falar e conversar sobre isso.
- Mas hoje não é o dia.
Um anão usando uma camiseta duas vezes maior que o tamanho dele, o que não é muito difícil, traz os nossos lanches até o carro, interrompendo a conversa.
- Dois cachorros de calabresa.
- Isso mesmo.
- E pra beber?
- Duas Pepsis.
O anão se afasta para buscar os refris e eu fico cuidando ele.
- Tu reparou que ele tinha a voz do Pato Donald?
- Soda, tu tem um problema!