segunda-feira, 23 de abril de 2012

capítulo 30

"Scoundrel Days" do A-ha toca no som ("... enquanto nossas vidas se fazem, acreditamos que por entre mentiras e o ódio, o amor corre livre...") e fico pensando na conversa que tive com Paulinha.

Voltar com a banda? Parece meio estúpido da minha parte pensar nisto agora, nesta etapa da minha vida, mas ao mesmo tempo, se eu for ver bem, tudo que ando fazendo na minha vida é um sequência de imbecilidades.

Mas será que algum dos guris ainda teria vontade de tocar? Já são mais de vinte anos desde nossa última apresentação em um show - a fatídica apresentação no Bar in Bar ali da Bozano - e é deste período, mais ou menos, a última vez que nos vimos.

Bem... estar enferrujado não seria o problema principal pois naquela época já não tocávamos nada mesmo, então neste quesito talvez o tempo até tenha melhorado algo... vai saber.

Deixa ver se eu lembro, mas acredito que a formação da banda, depois de 4 formações diferentes em menos de seis meses, naquele último show em Abril de 1992 era: Pia Envolvente na bateria, Jesus Patente no baixo, Geleia na guitarra e eu na voz (na verdade eram gritos e sussurros). O repertório era basicamente 7 músicas nossas (letras minhas e do Jesus Patente e música de toda banda) que incluíam coisas bizarras como "Spring", "White Walls" e "I Want To Lick Your White Skin" e mais 7 covers que eram  "God Save The Queen" dos Sex Pistols, "Boys Don't Cry" do The Cure, "Surfista Calhorda" dos Replicantes, "Rock'N'Roll" do Led Zeppelin, "Ziggy Stardust" do Bowie, "London Calling" do The Clash e uma versão hard-core de "Souvenir" do OMD, ou seja, éramos ecléticos com um ótimo gosto.

Sabe, pensando bem, não éramos ruins, quer dizer, éramos sim, mas afinal de contas isso não importa, rock sempre foi isso... incomodar, barulho, distorção, sexo e rebeldia infanto-juvenil.

Rebeldia juvenil... é... com a minha idade só sendo um imbecil para falar assim nisto. Mas como eu disse, sempre fiz coisas imbecis mesmo, talvez esteja na hora de eu fazer mais merda mesmo.

terça-feira, 20 de março de 2012

capítulo 29

Depois de tomar todas e mais algumas com a Paulinha no Cristal, saímos e resolvemos andar um pouco. Ela caminha um passo na minha frente e eu reparo nos cabelos presos dela que deixam cair alguns fios sobre a nuca.

- Que foi Soda?

Ela pergunta e eu volto ao frio da realidade.

- Nada não, tava longe, pensando bobagem.

- Sei... - ela fala com um leve sorriso na boca - tu tá sempre longe, sempre viajando, sempre sonhando... cara, tá na hora de fazer alguma coisa legal pra ti. O que que tu tem vontade de fazer?

Eu penso "te comer agora, neste momento", mas é claro que isso não sai de dentro da minha cabeça.

- Eu? Nada... não sei... ah sei lá, não me vem nada em mente.

Passamos por uns moleques que estão escutando música na rua, música ruim diga-se de passagem.

- Olha só estes pias escutando música ruim. - ela fala apontando para os guris - tá cheio de pia escutando uns lixos de música ou tocando uns lixos de música, por que tu não faz uma coisa útil e volta com a banda? Desde aquele show no antigo Bar In Bar que tu vomitou no palco tu não mais tocou.

- Acho que o fato de eu ter vomitado no palco já é um bom indicativo que a coisa parou na hora certa.

- Que nada! - ela fala com aquela empolgação que eu admiro na Paulinha - Vocês eram a banda mais legal de Santa Maria.

- Mas ninguém gostava da gente!

- Por isso que vocês eram legais, vocês só tocavam o que queriam e tavam se lixando para o público.

Enquanto ela fala lembro das confusões daquela época e como tudo parecia mais simples. Como os amores eram mais divertidos.

Ela continua falando:

- Ia ser bom pra ti se a banda voltasse.

- Tá... - eu falo sem muita convicção, falo mais por ter me apaixonado pelas palavras e pela alegria dela em falar da banda - pode ser que tu esteja certa.

- É claro que eu tenho! - ela sorri como uma menina, uma groupie que está trabalhando no retorno da sua banda do coração - e o mais legal é que agora eu for ser a responsável pela banda.

- Xi... o que tu tá inventando?

- Nada - ela diz sorrindo - vamos unir duas coisas na volta da banda: tu exorciza a Carol da tua vida e eu viro empresária de banda de rock.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

capítulo 28

Paulinha está falando algo sobre a vez que a Angela Bowie pegou o David Bowie e o Mick Jagger na cama, só que não consigo prestar atenção no que ela diz, minha cabeça tá mais confusa do que de costume com a ideia de amar a Carol e sentir uma atração pela Paulinha.

- Soda? - ela diz e eu caio na real - Tá me escutando?

- Claro que tô!

- Até imagino - ela me olha direto nos olhos e eu fico gelado - só pode estar pensando na Carol.

- Pior que não. - falo sem muita convicção.

- Espero, pois tá na hora de tu tirar aquela guria da cabeça.

- Tá mas qual é o motivo de tu querer tanto isso?

- Não gosto de ver um amigo meu sofrendo assim como tu tá.

"Amigo", é bom eu notar e ouvir muito bem isso... ela só me quer como amigo.

- É, chega de pensar em Carol - tento pensar com clareza - o negócio é fuleragem e rock'n'roll.

- É isso aí meu caro - ela levanta o copo para um brinde - um brinde ao sexo violento e ao rock barulhento.

Brindamos e tomamos um grande gole de cerveja. Paulinha larga o copo e abre um largo e lindo sorriso e eu não consigo pensar em outra coisa: "sexo violento". Minha mente se forra de ideias libidinosas de Paulinha nua, de quatro, se mostrando pra mim.

Merda, eu sou um doente mental!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

capítulo 27

Paulinha chega meia hora depois e eu já estava na terceira cerveja.

Ela entra, me vê e senta comigo.

- Que que houve Soda?

- Nada - eu digo sem parecer muito convincente.

Ela sorri, faz um sinal para o garçom e volta a me olhar.

- Para com isso que tu não me engana de jeito nenhum, pra tu tá com essa cara e já estar bebendo é porque alguma coisa houve e se bem te conheço só pode ser alguma coisa com mulher, o que no teu caso significa... Carol!

Eu não sei porque eu não amo esta mulher, ela é bonita, rica, tem bom gosto musical, tem estilo para se vestir e me trata como nenhuma outra jamais me tratou. Por que meu Deus que eu tenho que gostar daquela vaca da Carol?

O garçom chega, Paulinha pede uma caipirinha e de forma magistral como só uma musa consegue fazer, arruma os lindos cabelos em um coque que deixam alguns poucos fios caídos naquele pescoço lindo. Só um pouco... por que eu estou falando desta maneira? Era só o que me faltava, além de amar a Carol, agora começar a confundir tudo com a Paulinha. 

Tô fudido!